Uma das aplicações mais interessantes das novas tecnologias de informação na saúde é a Telemedicina , que no seu conceito mais simples é a prestação de serviços médicos em comunidades distantes utilizando principalmente as telecomunicações.
África tem enormes carências na saúde pública, um facto que todos conhecem, as comunidades ficam distante dos principais centros urbanos e não existem vias de comunicação o que dificulta o acesso aos serviços de saúde. África Subsaariana tem uma situação particularmente critica, dos 42 países e seis ilhas que conformam a região, 28 tem dez ou menos médicos por cada 100 000 habitantes, veja que comparativamente Argentina, que não é propiamente um pais industrializado, tem 340 para a mesma quantidade de habitantes e o Peru tem 120. O impacto da carência de médicos é duplamente negativo porque alem de que o número de médicos é insuficiente para atender a população doente é também insuficiente para formar novos médicos e especialistas o que cria um circulo vicioso .
Tal e como em qualquer serviço, a Telemedicina tem uma incontornável equação custo benefício na sua implementação, principalmente pelo suporte das telecomunicações que raramente é barato, mesmo assim, nos projectos bem estruturados os benefícios quase sempre superam os custos, até porque em ultima instância trata-se de melhorar a saúde e como se diz na gíria, a saúde não tem preço. Outro aspecto interessante é que a Africa tem um dos maiores índices de penetração de telefonia celular, sendo que 40% das zonas rurais actualmente estão cobertas pelo serviço, os países africanos tem pulado a fase da telefonia fixa para entrar directamente na telefonia móvel e a utilização destas infra-estruturas pode diminuir os custos de implementação em programas de tele- saúde básicos.
Ora bem, o paradoxo desde meu ponto de vista, é que em projectos de Telemedicina já perfeitamente elaborados e implementados com ajuda de países não africanos, a participação do pessoal sanitário tem sido baixa, não pela falta de tecnologia e sim pela falta de interesse. Por exemplo, nos 2 primeiros anos do Projecto Africano de Tele -dermatologia auspiciado pela plataforma gratuita teleder.org, durante o primeiro ano os médicos de 13 países da Africa Subsaariana enviarão 345 casos o que representava aproximadamente um caso mensal por cada pais. A Índia estruturou em colaboração com a União Africana a Rede Pan-africana de Saúde Electrónica.
Se trata de uma projecto interessantíssimo e promissor, com objectivo de oferecer Telemedicina e Teleformação via satélite no mínimo para um hospital em cada pais africano estabelecendo enlace entre 5 hospitais regionais, 7 universidades de África e 12 hospitais na Índia. O custo para os países é quase nulo visto que durante os primeiros 5 anos o serviço é grátis. Pois bem, até o presente nem todos os países convidados participam no projecto e os que participam não fazem uma utilização óptima do mesmo.
Angola não foge muito desta realidade, a sanidade se enquadra no contexto da África e os serviços de Telemedicina são poucos ou inexistentes, tem sim algumas instituições privadas que fazem Telediagnóstico a partir de hospitais em Portugal, mas não conheço nenhum outro projecto, pelo menos com abrangência significativa nacional ou internacional.
Definitivamente o país com a carência enorme de médicos especializados que tem, faria melhor aproveitamento dos quadros existentes com ajuda da Telemedicina, e não tem que ser mega projectos complicados e caros, com projectos simples na base da telefonia celular e a Internet, médicos que laboram em zonas remotas dariam um serviço muito mais qualificado aos seus doentes se contassem com o apoio de especialistas mais experientes que laboram em Luanda, por exemplo .
As redes telefónicas e de Internet de Angola estão actualmente em condições de suportar este tipo de serviço, pelo menos ao nível das províncias. A expansão das empresas do sector ao interior do país pode contribuir na materialização de projectos Telemédicos, numa primeira fase, entre hospitais e clínicas da capital com as do interior e posteriormente implementar a internacionalização da mesma, inclusive poderia ser através duma rede especifica do Ministério da Saúde.
Aos médicos compete mudar mentalidades e comportamentos, a começar pelo ensino da Telemedicina que dever ser parte do curriculum das escolas de medicina. Os ganhos para os pacientes seriam incalculáveis. Repare que muitos doentes não teriam que deslocar-se à Luanda, só para confirmar uma hipótese diagnostica do medico que o assiste na sua província ou vila, bastaria que seu medico entra-se com a instituição de suporte em telediagnóstico na capital e envia-se os dados para analise, ainda poderia discutir com profissionais com mais experiência e aprender mais, alem que ao digitalizar os dados para o envio, fica já o registo que pode ser útil em consultas posteriores.
Acredito que se bem a Telemedicina não resolve plenamente os problemas de saúde do nosso continente e particularmente de Angola, certamente tem potencial para minimizar grande parte deles, o povo agradece.
* Artigo publicado por mim na revista IP da Associação Angolana de Provedores de Serviços de Internet (AAPSI)
Confira um projecto interessante: Projecto para países dos PALOP de dermatologia da La Roche
Comentários
Enviar um comentário