Avançar para o conteúdo principal

Poucos benefícios e alguns riscos na injeção de esteroides na lombalgia

A lombalgia afecta 80% dos pacientes com idade superior aos 40 anos
A lombalgia afecta 80% dos pacientes com idade superior aos 40 anos

As injeções de esteroides que são  amplamente usadas para tratar a dor de costas oferecem pouco ou nenhum benefício real, isto segundo um novo estudo praticado sobre 400 pacientes.

No estudo, pacientes  que receberam o fármaco combinado com o analgésico lidocaína não tiveram melhores resultados em medições de incapacidade ou da dor de pernas após seis semanas de tratamento do que o grupo de controle, que só recebeu injeções de lidocaína.

“Estas (injeções) são muito comuns e os esteroides geram riscos adicionais sem muito benefício”, disse a autora principal, doutora Janna Friedly, da University of Washington, Seattle. “Espero que os pacientes e seus médicos sejam mais cautelosos com seu uso” para o tratamento da estenose espinhal, adicionou.

A estenose da espinha lombar é um estreitamento do canal medular ao nivel das vertebras lombares inferiores. Isso comprime os nervos e causa dor, ela é a causa principal da cirurgia de coluna nos adultos maiores.

Supõe-se que a combinação dos esteroides glicocorticoides e um anestésico reduz a inflamação dos nervos na zona afectada. A cada ano, apenas o Medicar registra 550.000 procedimentos; cada injeção custa entre 500 e 2.000 dólares, o que não é barato.

“Este estudo questiona os benefícios das injeções epidurais com esteroides para tratar a estenose espinal”, opinou o doutor Gunnar Andersson, do Centro Médico da Rush University, Chicago, em um editorial sobre o estudo publicado no New England Journal of Medicine.

“É como se fosse mais difícil justificar o uso destas injeções para tratar a estenose espinal. Mas não demonstra que o tratamento não seja efetivo”, disse o doutor D. Scott Kreiner, copresidente da comissão que redatou as diretrizes da Sociedade Norte-americana de Coluna e que não participou do estudo.

O médico adicionou que a terapia “é moderadamente efectiva, não curativa, e que nem sempre seria suficiente para evitar a cirurgia em alguns pacientes”.

A equipe incluiu um grupo de médicos de 16 centros dos Estados Unidos. A metade utilizou injeções de lidocaína mais um de quatro esteroides: triamcinolona, betametasona, dexametasona ou metilprednisolona. A outra metade aplicou só lidocaína. Todos os pacientes podiam receber um segundo ciclo do tratamento.

Antes das injeções e após três e seis semanas da aplicação, os pacientes qualificaram seus níveis de dor em uma escala de 25 pontos (25 = máxima dor).

Após três semanas, o nível de dor média do grupo tratado só com lidocaína (grupo controle) diminuiu de 15,7 para 13,1 pontos, e para 12,5 pontos após seis semanas. O grupo tratado com lidocaína e um glicocorticoide começou o estudo com algo mais de dor (16,1) e foi o que mais alívio registrou após três semanas: 11,7 pontos e 11,8 após seis semanas.

A diferença não é estatisticamente significativa e poderia ser aleatória. O mesmo padrão se observou com a dor de pernas, mas com uma leve diferencia após três semanas que desapareceu após seis semanas.

Na pesquisa de satisfação, 67 por cento dos pacientes tratados com a terapia combinada disseram estar muito ou algo satisfeitos com o tratamento, versus 54 por cento do grupo controle.

Os usuários dos esteroides também melhoraram muito mais que o grupo controle em uma escala para avaliar a depressão, mas registraram mais efeitos adversos por pessoa (febre, infecção ou ambos em dois pacientes do grupo controle versus 10 pacientes tratados com lidocaína mais esteroide).

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A ortopedia em Angola. Realidade e desafios

A Sinistralidade rodoviária foi o tema principal do primeiro congresso da SAOT, a Sociedade Angolana de Ortopedia e Traumatologia, tudo indica que será o tema principal em muitos outros. Infelizmente, continuamos a enfrentar, agora com mais dificuldades, a mesma epidemia de trauma. Protelamos muitos problemas ortopédicos graves da população, simplesmente, porque estamos limitados ao tratamento principalmente, das víctimas dos acidentes. O nosso  passivo de doentes com deformidades, de infecções recorrentes e de tumores sem tratar é cada vez maior. A situação actual em quase todas as instituições de saúde, publicas ou privadas pode ser resumida assim: A epidemia de trauma desborda a capacidade de atendimento dos ortopedistas. Mais do 80% da actividade cirúrgica está dirigida ao tratamento das fracturas e suas sequelas. Isto consume recursos, tempo e vocação profissional. Os acidentados lotam practicamente todas as camas disponíveis. Os serviços ficam sem espaço para internar doentes com...

Por que políticos africanos procuram cuidados médicos além fronteiras?

 Numa tendência cada vez mais prevalente e intrigante, políticos africanos cruzam as fronteiras do seu país, em busca de cuidados médicos. Essa prática, que desperta questionamentos sobre a qualidade e eficácia dos sistemas de saúde em seus próprios países, é um fenômeno digno de escrutínio e reflexão. Embora seja compreensível que indivíduos influentes busquem os melhores tratamentos disponíveis, a questão ganha dimensões peculiares quando se trata de líderes e representantes políticos. Afinal, esses são os mesmos indivíduos que deveriam, em teoria, estar comprometidos com o aprimoramento dos sistemas de saúde internos e com a garantia de atendimento de qualidade para todos os cidadãos. Uma das razões frequentemente citadas para justificar essa busca fora das fronteiras é a falta de infraestrutura adequada nos sistemas de saúde africanos. Em muitos países do continente, a carência de equipamentos médicos de ponta, a escassez de medicamentos essenciais e a insuficiência de recursos...

Conheça a nova abordagem da dor crónica

A dor sempre foi objecto de estudo do ser humano e tem um caráter subjectivo, podendo ser compreendida de forma diferente por cada pessoa. Enquanto a dor aguda é um sintoma de alerta e está relacionada a afecções traumáticas infecciosas ou inflamatórias, sendo bem definida e transitória, a dor crónica é caracterizada como aquela que persiste além do tempo necessário para a cura da lesão, com um processo com limites mal definidos, sendo, deste modo, uma doença em si própria. A Terapia Cognitiva (TC) ou Terapia Cognitiva Comportamental (CBT) foi desenvolvida pelo Dr. Aaron T. Os fisioterapeutas ajudam os pacientes a superar as dificuldades, principalmente a dor, trabalhando com seus pensamentos, comportamentos e reacções emocionais. O fundamental é procurar entender o problema apresentado, a situação actual da vida, o funcionamento global do indivíduo ao longo do seu desenvolvimento, suas experiências traumáticas observando como ele organiza a sua própria história como se relaciona ...