Mais da metade dos pacientes em Angola, com manifestações iniciais de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) são diagnosticados tardiamente e muitos nem sequer tem o diagnostico confirmado. Os pacientes entram num “tour hospitalar” que os leva a consultar diferentes especialistas. Como o LES é uma doença multissistêmica, cada um dá um diagnóstico de acordo a sua especialidade.
O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença inflamatória auto-imune de etiologia desconhecida, que pode envolver a vários aparelhos e sistemas isoladamente ou em seu conjunto. Numa linguagem mais simples o sistema imunitário do indivíduo identifica como patogênicas os próprios sistemas e aparelhos. Tem um curso clínico e um prognóstico variável. Muitos ainda a consideram uma doença rara e talvez seja esse um dos motivos da sua alta mortalidade, só se diagnostica aquilo que se suspeita.
Estima-se que em USA a incidência é de 14.6 a 50.8 casos por cada 100.000 habitantes, na revisão bibliográfica deste artigo constatamos que só na consulta de Reumatologia do Hospital Santa Maria de Lisboa são seguidos mais de 300 pacientes e estima-se que metade dos pacientes com LES tem danos permanentes em algum órgão ou sistema.
O perfil imunológico dos pacientes com Lúpus inclui uma exaltação da imunidade humoral responsável pela formação de anticorpos que provoca fenómenos de vasculite e uma diminuição da imunidade mediada por células, de ai a maior propensão destes pacientes para contraírem doenças infecciosas em particular por gérmenes oportunistas.
O Lúpus e mais frequente na mulher em idade produtiva e tem a menor prevalência em crianças e idosos, se trata de uma doença simuladora por que tem uma variedade de sintomas e sinais que são comuns com outros processos osteoarticulares e por isso passa muitas vezes inadvertido, confundido com outra doença.
Embora possa aparecer em qualquer etnia ou região, percebe-se em estudos demográficos norte-americanos uma prevalece na raça negra, na asiática e em famílias com história de doenças auto-imunes.
No Brasil as estimativas indicam que existam cerca de 65.000 pessoas com lúpus, sendo a maioria mulheres. Acredita-se assim que uma a cada 1.700 mulheres no Brasil tenha a doença.
Segundo o colégio americano de reumatologia, o diagnóstico da doença é factível em qualquer indivíduo com pelo menos 4 dos seguintes sinais;
1- exantema em asa de borboleta
2- lúpus discóide
3- ulceras orais
4- artrite
5- serosite
6- proteinuria superior a 500mg/24h
7- alterações neurológicas, convulsões ou psicose
8- anticorpos antinucleares
9- fotossensibilidade
10- distúrbios hematológicos tais como anemia hemolítica, linfopenia, leucopenia, trombocitopeneia.
11- disturbios inmunitarios :anti DNA positivo, célula LE positiva,etc
As manifestações reumáticas e dermatológicas quase sempre estão presentes, repare que 96% dos 232 casos observados no Hospital Santa Maria tinham alguma alteração deste tipo, a seguir vem as hematológicas presentes em 86%, a febre e sintomas gerais em 60%, as renais em 46% e finalmente as psiquiátricas em 42% .
A artrite é a manifestação reumática mais frequente e não é raro que muitos passem toda uma vida com diagnóstico de A. Reumatóide, quando na verdade tem LES. A hipertensão é outro elemento importante, geralmente de causa renal por glomerulonefrite proliferativa difusa.
Não pretendo abordar o tratamento do LES, por isso deixo algumas referências para consulta, isso sim, colegas e pacientes fiquem em alerta sempre que alguém apresente algum dos já referidos sintomas ou sinais e pensem logo na possibilidade da existência desta doença, acreditem, ignorar o diagnóstico de LES quase sempre é fatal.
Sites que podem e devem ser consultados:
1- Lupus Foundation of America
2- Associação Brasileira de Lúpus
3- Comunidade de Lúpus no Facebook
Bibliografia
1. American College of Rheumatology ad Hoc Commitee on Systemic Lupus Erythematous
Guidelines for referral and management of systemic lupus erythematous in adults. Arthritis Rheum 1999;42:1785-96
2. Reeves W, LahitaRG. Clinical presentation of SLE. In: LahitaRG, editor Systemic lupus
erythematous. 2nd ed. New York: Churchill Livingstone; 1992. P. 369-96.
3. McMurray RW. Nonstandard and Adjunctive Medical Therapies for Systemic Lupus Erythematous Arthritis Care Res 2001;45:86-100.
4. Ostensen M, Villiger PM. Nonesteroidal anti-inflammatory drugs in systemic lupus erythematous. Lupus 2001;10:135-139
5. Chatham WW, Kimberly RP. Treatment of lupus with corticosteroids. Lupus 2001;10:140-147
6. D´Cruz D. Antimalarial therapy: a panacea for mild lupus?. Lupus 2001;10:146-151
7. Abu-Shakra M, Shoenfeld Y. Azatioprine therapy for patients with systemic lupus erythematosus. Lupus 2001;10:152-153
8. Takada k, Illei GG, Boumpas DT. Cyclophosphamide for the treatment of systemic lupus
erythematosus. Lupus 2001;154-161
9. Sato EI. Metotrexate theraphy in systemic lupus erythematosus. Lupus 2001;10:162-164
10. Ting WW, Sontheimer RD. Local therapy for cutaneous and systemic lupus erythematosus
practical and theoretical considerations. Lupus 2001;10:171-184.
Comentários
Enviar um comentário