Avançar para o conteúdo principal

O pouco impacto dos ataques terroristas em Africa nos meios de comunicação social

meme
Duas mil mortes na Nigéria e ninguém diz nada!

Autoria Birgit Morgenrath/ Glória Sousa

A par da solidariedade com as vítimas dos atentados terroristas em Paris, nas redes sociais, muitos africanos mostram-se frustrados com o impacto dos ataques nos meios de comunicação social um pouco por todo o mundo.

Os atentados terroristas da última sexta-feira (13.11), em Paris, que causaram 129 mortos, estão a causar um misto de emoções entre os cidadãos africanos que se mostram solidários com as vítimas, mas consideram “desigual” a cobertura internacional dos ataques em Paris.

“Duas mil mortes na Nigéria e ninguém diz nada”, comenta um usuário na página da DW Português para África na rede social Facebook.
“Na Síria, morrem todos os dias mais de 300 pessoas e o sangue também é vermelho,” escreve um internauta numa outra página da DW.
Se compararmos com outros atentados terroristas que matam todos os dias centenas de civis em Gaza, na Síria, no Iraque ou na Somália, os ataques de Paris têm uma cobertura muito mais intensa por parte dos média ocidentais, observa o burundês

“Há sempre esse sentimento amargo. Por exemplo, em Garissa, no Quénia, mais de 200 pessoas foram mortas e a mobilização internacional não foi tão grande como no caso de Paris. Também quando o  Boko Haram sequestrou mais de 200 raparigas, que mantém até hoje como reféns, a opinião pública internacional não foi tão mobilizada como em Paris,” recorda.

Média reflectem ordem global

Os média parecem, assim, ter dois pesos e duas medidas. O que, para o analista David Gakunzi, não é mais do que o reflexo da ordem global.

“A geopolítica do nosso mundo está organizada em centros e periferias. Então, quando não se está nos centros do mundo, não há cobertura dos média. Os média são um reflexo dessa geografia. Não é uma questão de segregação na abordagem da realidade, é muito mais um reflexo da política,” explica.

Muitos jovens africanos sentem-se hoje parte da “aldeia global.

Só na Nigéria e no Quênia, mais de 20 milhões de usuários estão registrados na rede social Facebook. A tecnologia existe para se comunicar em todo o mundo, mas muitas vezes essa comunicação é feita apenas num sentido, diz Gakunzi.
O analista cita como exemplo a Nigéria, onde o Boko Haram arrasou aldeias inteiras, mas o tema continua a passar ao lado na maior parte dos média.

“Neste novo fenómeno sociológico, em que muitos jovens em África usam os chamados média sociais, eles são parte da cultura global e sentem-se cidadãos desta aldeia global. E, por vezes, sentem-se frustrados,” avalia.

De acordo com David Gakunzi, os Estados africanos podem contribuir para mudar o atual cenário mediático. Democracias fortes e estáveis são capazes de ter médias fortes com capacidade para transformar e fortalecer a imagem do continente africano no mundo, considera o analista.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A ortopedia em Angola. Realidade e desafios

A Sinistralidade rodoviária foi o tema principal do primeiro congresso da SAOT, a Sociedade Angolana de Ortopedia e Traumatologia, tudo indica que será o tema principal em muitos outros. Infelizmente, continuamos a enfrentar, agora com mais dificuldades, a mesma epidemia de trauma. Protelamos muitos problemas ortopédicos graves da população, simplesmente, porque estamos limitados ao tratamento principalmente, das víctimas dos acidentes. O nosso  passivo de doentes com deformidades, de infecções recorrentes e de tumores sem tratar é cada vez maior. A situação actual em quase todas as instituições de saúde, publicas ou privadas pode ser resumida assim: A epidemia de trauma desborda a capacidade de atendimento dos ortopedistas. Mais do 80% da actividade cirúrgica está dirigida ao tratamento das fracturas e suas sequelas. Isto consume recursos, tempo e vocação profissional. Os acidentados lotam practicamente todas as camas disponíveis. Os serviços ficam sem espaço para internar doentes com...

Por que políticos africanos procuram cuidados médicos além fronteiras?

 Numa tendência cada vez mais prevalente e intrigante, políticos africanos cruzam as fronteiras do seu país, em busca de cuidados médicos. Essa prática, que desperta questionamentos sobre a qualidade e eficácia dos sistemas de saúde em seus próprios países, é um fenômeno digno de escrutínio e reflexão. Embora seja compreensível que indivíduos influentes busquem os melhores tratamentos disponíveis, a questão ganha dimensões peculiares quando se trata de líderes e representantes políticos. Afinal, esses são os mesmos indivíduos que deveriam, em teoria, estar comprometidos com o aprimoramento dos sistemas de saúde internos e com a garantia de atendimento de qualidade para todos os cidadãos. Uma das razões frequentemente citadas para justificar essa busca fora das fronteiras é a falta de infraestrutura adequada nos sistemas de saúde africanos. Em muitos países do continente, a carência de equipamentos médicos de ponta, a escassez de medicamentos essenciais e a insuficiência de recursos...

Conheça a nova abordagem da dor crónica

A dor sempre foi objecto de estudo do ser humano e tem um caráter subjectivo, podendo ser compreendida de forma diferente por cada pessoa. Enquanto a dor aguda é um sintoma de alerta e está relacionada a afecções traumáticas infecciosas ou inflamatórias, sendo bem definida e transitória, a dor crónica é caracterizada como aquela que persiste além do tempo necessário para a cura da lesão, com um processo com limites mal definidos, sendo, deste modo, uma doença em si própria. A Terapia Cognitiva (TC) ou Terapia Cognitiva Comportamental (CBT) foi desenvolvida pelo Dr. Aaron T. Os fisioterapeutas ajudam os pacientes a superar as dificuldades, principalmente a dor, trabalhando com seus pensamentos, comportamentos e reacções emocionais. O fundamental é procurar entender o problema apresentado, a situação actual da vida, o funcionamento global do indivíduo ao longo do seu desenvolvimento, suas experiências traumáticas observando como ele organiza a sua própria história como se relaciona ...