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Àfrica e a emigração dos medicos

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine (NEJM 2005; 353:1810-1818), documenta que há um êxodo contínuo e progressivo de profissionais da saúde da África e das Caraíbas aos países mais desenvolvidos, nomeadamente Estados Unidos, Canada, Austrália e Reino Unido.

O NEJM é uma das mais prestigiadas revistas médicas, o seu site felizmente patrocina a descarga gratuita de artigos na íntegra para médicos dos países subdesenvolvidos. Neste estudo recentemente publicado, os participantes são da Universidade George Washington, que pesquisaram as bases de dados dos 4 países antes mencionados e nos dados disponíveis da OMS para saber a procedência dos médicos estrangeiros.

Segundo o estudo, os países que mais médicos, perdem na America, são a Jamaica, onde o 42% dos graduados abandonam o pais e o Haiti com mais do 35% dos seus profissionais a saírem e a não voltar.Na África, os mais afectados são África do Sul, Uganda, Nigéria e a Etiópia com os mais altos índices de abandono, talvez porque são os que mais médicos formam no continente. No Zimbabwe, 3/4 dos médicos graduados deixa o país.
A “fuga de cérebros” não é um fenómeno novo, mais o impacto negativo agora é maior porque a África  está sem recursos humanos para enfrentar grandes epidemias como a da SIDA ou a Tuberculose. Por outro lado, o crescimento descontrolado da população  desequilibra ainda mais a equação  médicos / habitantes.

Desde o ponto de vista económico o fenómeno também é desastroso. Os estados perdem todo o investimento feito na formação. Um médico demora 6 anos até a sua licenciatura e mais 4 anos de estudos na pós graduação.  Durante tudo este tempo, no caso dos formados em instituições públicas, o estado gastou enormes quantidades de dinheiro.

O que fazer para travar esta sangria?

Algumas soluções são apontadas e a maioria passam pela melhora das condições de trabalho e pela satisfação das necessidades individuais dos profissionais. Isto é fundamental.

Outro aspecto importante é uma melhor estrutura dos serviços de saúde pública, tem países como os Camarões, em que o sistema nem sequer consegue absorver os poucos médicos que finalizam os estudos. Pagar melhor os profissionais da saúde é outra das medidas, repare que mesmo na Europa tem  médicos que emigram a procura de melhores salários e dentro da própria África, muitos  vão trabalhar na África do Sul, porque ganham lá mais do que no seu país,. Outras medidas têm a ver com garantias de superação profissional, de intercâmbio científico, etc.

Infelizmente, quase sempre os que partem são os melhor preparados. São os que conhecem seu potencial cientifico e confiam em encontrar colocação. Não poucas  vezes já emigram com propostas de trabalho. Os países ricos ficam a ganhar duplamente, a África perde o melhor dos seus quadros, a sua maior riqueza. África fica mais pobre.

Medico Tradicional Sign, Ikom, Nigeria, West Africa

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