A burocracia na assistência médica resulta da necessidade de existirem procedimentos e documentos que regulem serviços cada vez mais complexos e específicos. Só com o estabelecimento de um conjunto de regras é possível, por exemplo, definir os papéis e as responsabilidades dos integrantes duma equipe medica. O cumprimento de rotinas ou fluxos estabelecidos pela equipe, trazem melhor organização, mais eficiência e segurança nos procedimentos médicos.
Mas quando estas regras travam a agilidade, a eficácia e velocidade da equipe médica para dar atendimento adequado aos doentes surge a Burocracia Maligna Progressiva (BMP). A BMP tal como um cancro uma vez instalada cresce, metástiza e se retro-alimenta. A BMP pode colocar uma instituição da saúde em estado terminal ou levar qualquer um a desistir da sua actividade profissional .
Na BMP, cada nova norma complica o trabalho. Por vezes elas emanam de pessoas com poucos conhecimentos (ou nenhum) da complexidade da assistência medica. A maioria dos portadores de BMP, nem sequer gostam da medicina. Defendem um salário, um status, por isso fazem qualquer coisa para mostrar seu controlo. Complicam o trabalho dos outros, mas não assumem responsabilidades perante o doente. Se algo corre mal, sempre encontram um enfermeiro, um médico ou algum administrativo para culpabilizar.
Mas pior que burocratas de gema só os médicos com BMP. O médico com BMP faz de tudo para manter sua posição. A BMP altera até seu raciocínio cientifico. O faz esquecer sua procedência, deixa de responder ao paciente e aos antigos colegas para responder à administração. Casos terminais de BMP chegam até deturpar o conhecimento medico, para justificar actitudes burocráticas.
Assim que toma posse do cargo, o primeiro é criar novos formulários, novos relatórios, novos conteúdos autoritários e exigentes. Pensa que está a inovar, quando na realidade só está a complicar. Não interessa a quantidade ou qualidade das regras que encontrou, ele vá a criar outras. Tem necessidade vital de mostrar que com ele será diferente, que agora ele é chefe.
Novas proibições, novas obrigações, informes redundantes, que em nada melhoram a saúde dos pacientes, mas alimentam o ego do neo-burocrata maligno. É preciso entender, que uma clínica ou um hospital, não é uma conservatória de registo civil. Não é uma repartição. A essência dela não é tratar documentos é tratar doentes.
O excesso de medidas e controlos burocráticos tem um outro efeito nefasto. A sobrecarga psicológica no pessoal directamente ligado ao paciente. A avalanche de restrições, protocolos, reuniões, informes, memorandos, retro informes, além de diminuir o tempo para atender aos doentes, provoca uma sensação de impotência profissional.
Nada irrita mais a um médico, que ser obrigado a fazer algo que não responda a sua missão principal. A missão pela qual estudou (e continua a estudar) muitos anos e que escolheu por vocação. Fica desgastado por ser obrigado a fazer coisas sem lógica que alguém impõe porque tem poder. Isso desanima, provoca desatenção e raiva. Faz que o profissional fique indolente e se dedica cumprir estrictamente o que lhe é solicitado. Acredito que neguem gostaria ser assistido por um profissional nesse estado psicológico. É bom ter em conta, que médicos burocratizados, os contaminados com a BMP, desaparecem sempre que as coisas correm mal.
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