Será necessário remover a placa, os parafusos ou a cavilha depois que a minha fractura consolidar?
Talvez seja esta, uma das perguntas mais frequentes dos pacientes submetidos a tratamento com algum destes artefactos. A remoção do “hardware”, isto é, dos implantes utilizados nas osteossínteses do osso ainda hoje contínua sem consenso.
Por princípio, qualquer elemento estranho colocado nopaciente deve ser removido assim que cumpra seu objetivo. Outrossim tambémexiste o princípio médico/deontológico de “Primum non nocere”, quesignifica primeiro não prejudicar. Resulta que a remoçãodos implantes pode ser um acto tão o mais agressivo que a sua colocaçãoinicial. Principalmente quando se trata de implantes complexos constituídos porvários elementos. Exemplo: Placas com parafusos, cavilhas com bloqueio, prótesescom dois componentes, etc.
A remoção do implante é sempre mais difícil do que o esperado. Ortopedista cacimbado sabe disso.
O velho ditado de que o paciente pode nunca ficar bem após a remoção do implante é verdadeiro. Relatos de remoção de hastes intra-medulares e fracturas de tornozelo indicam que o maior risco da remoção é a falta de alívio completo da dor.
Mas esse material dentro do corpo, será que não faz mal à saúde?
Na maioria das pessoas não. Os implantes são feitos de aleações ferrosas que após múltiplos testes demonstrarão um comportamento inócuo para o corpo humano. Isto não elimina totalmente a possibilidade de alergia individual. É o caso de pacientes femininas de pele clara e ruivas, com histórico de alergias a medicamentos múltiplos e irritação por bijutarias ou jóias que não são ouro puro. Estas pacientes podem desenvolver dor profunda devido a uma potencial alergia ao níquel. Por outro lado nem sempre os fabricantes cumprem as normas recomendadas nas aleações.
Outro elemento importantíssimo é a qualidade da osteossíntese. Se o cirurgião não preservar a união estável dos elementos ou se utilizar material de marcas diferentes. Isso pode provocar uma corrosão galvânica e reacção inflamatória no tecido à volta. Infelizmente, com a precariedade com que muitos hospitais trabalham não é raro que se utilizem instrumentos ou implantes de fabricantes diferentes. Isso favorece esse tipo de complicação. Repare que a resposta inflamatória se caracteriza pela destruição do osso onde esta o implante e a perda da estabilidade do implante.
Por que os cirurgiões não gostam remover o material de osteossíntese?
São poucos os ortopedistas que gostam remover materiais de osteossínteses.Devido às taxas relativamente altas de complicações associadas à remoçãorotineira, a maioria dos cirurgiões não a recomenda, em pacientes adultos, amenos que o hardware seja sintomático, o paciente tenha dor significativa ou algumainfecção.
Remover implantes pode ser uma tarefa complexa. O implantepode estar coberto de osso (que deve ser removido), não estar bem localizado ounuma zona de difícil acesso. Quase sempre tem a volta tecido de fibroso comvasos sanguíneos neoformados, sem padrão anatómico definido que são facilmentelesados. Sabe-se que um único orifício de um parafuso removido pode diminuir a resistênciacompressiva do osso esponjoso em 20%. A estabilidade torsional pode estarcomprometida em 50%. Os pacientes precisam estar cientes desses riscos.
Sendo assim que critérios devem ser considerados para aremoção dos implantes usados no tratamento?
Geralmente as indicações para remoção dos implantes podemincluir falhas mecânicas com a instabilidade óssea resultante, falta deconsolidação óssea, infecções crônicas e dor persistente. Pacientes comdesconforto provocado pela proeminência do hardware em torno das articulaçõesou nas áreas sem muita cobertura tecidual melhoram com a remoção do implante.
Os implantes colocados na fixação das fracturas em articulações pélvicas de mulheres jovens, deve ser rotineiramente removido, se as mulheres desejarem engravidar e fazer parto vaginal. A remoção de placas colocadas no fémur é recomendada para quase todas as crianças. Primeiro porque podem comprometer o crescimento na zona, segundo porque em alguns casos complicam a realização de exames como a Ressonância Magnética.
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