Subiem uma moto pela primeira vez com 54 anos. Tambémcaí de uma moto, pela primeira vez aos 54 anos, minutos depois de ter subido.Felizmente nem a moto, nem eu sofreu grande coisa. Resultado de outras quedas aseguir, foram uma fractura do perónio, quebra do comando da embraiagem, do travão,raspei varias vezes a carnagem da mota junto com a pele da minha perna.Felizmente nem a mota, nem eu nunca tivemos que internar …até agora. As marcasnas pernas são lembranças do que fui capaz.
Cadaqueda foi uma experiência na condução, mas também navida. A minha autoconfiança melhorou muito quando finalmente consegui andar demota. Em 2017 embarquei meu clube Motard,os Amigos da Picada, numa viagem até aprovíncia de Cabinda. Fomos por terra e chegamos a Cabinda pela fronteira doYema, depois de atravessar varias cidades na RDC. Eu nunca tinha andado napicada com uma moto de 1200cc.Alias, eu nunca tinha andado na picada. A viagemfoi em Setembro, com muita chuva e pouco asfalto.
Noinício da viagem, logo que entramos na picada, senti medo. Tinha medo de cair eficar ferido, de estragar a moto, de complicar a viagem dos meus amigos, em fimde não conseguir chegar. Isso também acontece na vida, fazemosuma escolha, imaginamos as dificuldades pela frente, sentimos medo edesistimos. Isto é naturalmente humano. Não obstante o medo diminui quandodecidimos avançar. Agir parece ser o melhor antídoto contra o temor. Pelo menosfoi assim comigo.
Tenhono meu Facebook uma foto em que aparentemente estou a proteger-me do sol com amão. Na mais longe da verdade, estava a assinalar que era aquinta queda consecutiva. Depois dessa foto cai mais 3 vezes. Alguém ficou agozar com as minhas quedas, algo habitual no ambiente da picada, mas eu nãoestava preocupado. Meu receio não era cair, era não poder levantar-me. Cai 8vezes e levantei-me 8 vezes, foi assim que cheguei a Cabinda, depois de muitasquedas.
Oregresso não foi pêra doce, alias, foi piorque a ida e até pensei desistir. O caminho tinha ainda mais lama, chuva que nãodava descanso, muita tensão na via. Num trecho difícil até para os carros,quando já estava a pensar entregar a moto para alguém, veio ate mim opresidente do Clube e diz-me:
–Vou levar a tua mota até a zona com menos lama, mas você éque vai leva-la ate Luanda. Nem penses em desistir, porque vás arrepender-tetoda uma vida-
O PR levou a minha mota, consegui descansar um bocado, e assimilei suaspalavras. Desistir não era uma opção valida.
Lium artigo interessante sobre uma doutora que ajuda àspessoas mais velhas lidar com a morte. Diz que quando perguntava aos maisvelhos, acerca de qual foi o maior arrependimento das suas vidas, a maioria nãosentia arrependimento pelas coisas que fizeram, e sim pelas coisas que deixaramde fazer. Parece que nas ultimas horas, a gente arrepende-se do que ficou porser feito. Das coisas que deixamos para fazer algum dia e nunca foram feitas.
Aquiloem que acreditamos sermos capazes, que nos faria sentir bem e que nosenalteceria como seres humanos, não deveser protelado. Mesmo que for difícil inicialmente, desistir será pior. Aprendiisso com as dificuldades de cada viagem e o utilizo no meu dia-a-dia. Um dia, acaminho do Waku-Congo, fiz a seguinte reflexão. Se com 54 anos fui capaz desubir numa mota de alta cilindrada e atravessar uma parte da RDC, o que nãoseria capaz de fazer? O que pode ser mais perigoso? O que pode ser mais difícil?
Hoje dia 1 de Maio faço 58 anos. Já ultrapassei a esperança de vida de aqui onde vivo. Diariamente pego na minha mota e desfruto a viagem até o meu novo emprego. Deixei de fazer o plano de outrem e decidi fazer o meu. Acredito que muitas quedas ainda tenho pela frente. Mas estou convicto de que se não ficar machucado, vou levantar, sacudir a poeira (ou a lama) e continuar o caminho. Mudei coisas importantes na minha vida. Contínuo fiel aos meus princípios. Sou responsável com meus compromissos, familiares e sociais. Insisto em viver do meu jeito e também ser mais útil aos que me rodeiam. Para alguns sou um “cota” atrevido, que não reparou que está as portas da terceira idade. Para mim sou um Motard cheio de vida, na segunda juventude, com um monte de coisas ainda por fazer.
Outrossim, estou a pensar na minha terceira juventude, essa que vem depois dos 70.
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