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Ortopedia: Por que operar as fracturas deslocadas da clavícula?

Fractura da clavícula esquerda
Fractura da clavícula esquerda

Segundo os autores de um estudo recente publicado no Journal Bone and Joint Surgery a ORIF (redução aberta e osteosíntese interna) das fracturas no terço meio da clavícula,  é uma intervenção segura e confiável, que tem resultados funcionais iniciais superiores ao tratamento conservador, isto é só imobilização, sem cirurgia.
Os resultados de um estudo que aparece na edição de Agosto 2017, da revista Journal Bone and Joint Surgery reforçam a tendência actual para o tratamento cirúrgico em fracturas deslocadas do terço meio da clavícula de adultos.

Os autores apresentam os resultados de um ensaio controlado aleatório multicêntrico. O estudo comparou a efectividade e segurança, entre o tratamento não-operatório (conservador) e a osteosíntese interna (tratamento cirúrgico) de fracturas no terço meio da clavícula deslocadas em adultos.

Osteosíntese da clavícula esquerda
Osteosíntese da clavícula esquerda

Um total de 301 pacientes adultos foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. Submetidos a controlo às 6 semanas, aos 3 meses e aos 9 meses após o tratamento.

Os resultados primários foram a taxa de não-união, radiograficamente comprovada, aos 3 meses após o tratamento. Os resultados secundários foram a taxa de não-união evidente, clínica e radiográfica,  aos 9 meses posterior ao tratamento.

A função do membro foi medida usando a pontuação Constante-Murley e a pontuação DASH (deficiências do braço, ombro e mão) assim como a satisfação do paciente.

Resultados
Não houve diferenças na proporção de pacientes com não-união aos 3 meses entre os grupos de operados (28%) e os não operados (27%), enquanto que aos 9 meses a proporção de não-união foi significativamente menor (p <0,001) no grupo dos operados (0,8%) do que no grupo dos não operados (11%).

As pontuações DASH e Constant-Murley e a satisfação do paciente foram significativamente melhores no grupo dos que foram operados do que no grupo dos tratados conservadoramente às 6 semanas e 3 meses.

Conclusões do trabalho

Os tratados conservadoramente tinham aos 9 meses uma taxa de não-união significativamente maior do que os operados (11% em comparação com <1%). A os 3 meses não existiam evidências de que a cirurgia fosse capaz de reduzir a taxa de não-união, mas a taxa de cirurgias secundárias durante o período experimental foi de 12 (11%) no grupo dos não operados.

Segundo os autores, a ORIF  deve ser considerada como tratamento valido em pacientes que sofrem este tipo de fractura.

Nível de Evidência: Nível Terapêutico I.

Fonte: Ahrens, Philip M.; Garlick, Nicholas I.; Barber, Julie; Tims, Emily M.; The Clavicle Trial Collaborative Group

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