Colocar uma tala gessada no membro fraturado da criança e mandá-la voltar 21 dias depois à consulta é a práctica comum nos serviços de saúde. Mas será que isso está certo?
Vejamos:
O processo de consolidação das fracturas começa logo que o osso quebra. Nas primeiras 72 horas junto com a formação de um hematoma a volta dos fragmentos, há também uma resposta inflamatória intensa. O sangue do hematoma provém dos vasos sanguíneos das partes moles e também da medula óssea lesionada.
A resposta inflamatória é responsável pela chegada de células e substâncias humorais que estimulam a formação de condroblastos e osteoblastos.Um alerta, a ingestão de anti-inflamatórios nesta fase, tem efeito bloqueador da reação inflamatória. Se não for estritamente necessário, os anti-inflamatórios devem ser evitados nas primeiras 72 horas.
No final da terceira semana já existe um calo constituído por fibrocartilagem.Este não é capaz de diminuir o movimento no foco da fractura, porém ainda não apresenta a resistência comum de um osso. Quando as fracturas são tratadas com uma tala gessada, o calo que se forma é volumoso e se mineraliza rapidamente. Este último episódio define a consolidação. Acontece,que nas crianças a formação do calo mole primário e a posterior calcificação acontece muito mais rápido que nos adultos.
Não acompanhar a evolução da criança nas primeiras semanas após a fratura, pode ser catastrófico. A tala gessada que por regra coloca-se, com o tempo amolece e não garante a estabilidade dos fragmentos. A mobilidade anormal no foco da fractura conduz a falha na cicatrização.
Quando os fragmentos se movimentam além de um certo rango, compromete-se a consolidação. Por sorte, o elevado potencial osteogênico das crianças compensa essa situação e raramente vemos pseudartroses. Em contrapartida, vemos muitos membros deformados porque os fragmentos se consolidaram em posição incorrecta. Devido à rapidez com que cicatrizam as fracturas nas crianças, quando elas voltam ao médico, após 3 semanas, já é tarde para qualquer correção.
Em situações idôneas, as fraturas em crianças devem ser observadas, no mínimo, a cada 6-7 dias nas primeiras semanas. Assim, qualquer anomalia pode ser corrigida antes de se estabilizar o calo. Mas infelizmente não temos situações idôneas em nosso serviço de saúde. É quase uma quimera pensar que seja possível reavaliar semanalmente as crianças com fractura. O volume de trabalho não o permite, as condições ainda menos.
Consequentemente temos crianças que na altura da reavaliação, a fractura não esta bem alinhada. Como ja existe um calo estructuralmente mais rijo, é dificil modificar a posição dos fragmentos. Quanto mais grave a fractura, pior seram as complicações. Quanto mais tempo passar, mais agressiva será a correcção. Não são poucas as crianças que carregam sequelas de por vida, devido a uma re-avaliação tardia de uma simple fractura.
Dr. Santiago Castilho. Ortopedista
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